Apr

14

Setor da construção civil enfraquece, derruba PIB e puxa desemprego

Nos últimos cinco meses, 250 mil postos foram fechados no setor, que tem peso de 6,5% no Produto Interno Bruto. Estagnação da economia interrompeu o ritmo de contratações e investimentos em infraestrutura, no mercado imobiliário e no varejo.

A construção civil costuma refletir o desempenho da economia de um país. Se as obras estão paradas, alguma coisa não vai bem no cenário nacional. Mas se os canteiros pulsam, há a certeza de um período de bonança. Não à toa, o setor vive atualmente um momento delicado no Brasil. Em meio a um ambiente recessivo, um dos principais motores da atividade econômica apresenta sinais claros de enfraquecimento: as demissões começaram e as projeções para 2015 são de forte queda.

Especialistas acreditam que o período promissor da construção civil, observado principalmente entre 2007 e 2010, chegou mesmo ao fim. Nas obras de infraestrutura, no mercado imobiliário e no varejo, a estagnação da economia derrubou a demanda e interrompeu de vez o ritmo acelerado de contratações e investimentos.

Desde abril de 2014, o número de vagas vem caindo, constata o presidente da Câmara Brasileira da Construção Civil (Cbic), José Carlos Martins. Somente nos últimos cinco meses, foram fechados 250 mil postos de trabalho, número significativo para um setor que emprega cerca de 13 milhões de pessoas em toda a cadeia produtiva. Em 2014, setor encolheu 2,6%. Este ano, a queda estimada será de 5%. "A situação vai piorar. Não estão previstas contratações para os próximos meses."

A tendência é de que a construção civil siga degringolando se a economia não mudar de rumo. Na avaliação de Martins, os investimentos devem cair, especialmente por conta da operação Lava-Jato, da Polícia Federal -- o investigado esquema de corrupção na Petrobras -- que atingiu as maiores empreiteiras do país. "O empresário investe se o país voltar a crescer. Se o setor público não fizer a parte dele, as empresas também não farão", afirma.

Nos últimos meses, dada a demora na aprovação do Orçamento de 2015, ficou nítida a redução dos investimentos do governo. Além disso, os pagamentos da União para as construtoras pelo Minha Casa, Minha Vida continuam com atrasos médios de 15 dias. "Eles pagam toda a semana, mas muito menos do que as empresas esperam. O volume a receber vem crescendo", diz.

Apenas no Distrito Federal, a construção civil demitiu 10 mil operários no primeiro trimestre deste ano. Está mais difícil aprovar projetos e os pagamentos de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do governo local estão atrasados, segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF). As dificuldades têm obrigado as empresas a diminuírem o quadro de funcionários. Em 2014, foram 45 mil demissões.

O catarinense Rafael Sousa, 45 anos, cresceu frequentando canteiros em que o pai era mestre de obras. Aprendeu o ofício com maestria e, resume ele, tudo o que construiu na vida deve ao trabalho na construção civil. "Mas o negócio agora não está bom, não", lamenta, preocupado com o futuro. O prédio que ele está ajudando a erguer no Noroeste, em Brasília, não tem nem 50% das unidades vendidas. "O país está em recessão. Se ninguém sabe o que vai acontecer, por que as pessoas vão comprar apartamento?", pergunta ele.

Na virada da última década, recorda Sousa, representantes de construtoras faziam plantão na porta de obras das concorrentes para tentar captar mão de obra. "Eles brigavam por peão, pagando mais. Hoje é o contrário: as empresas estão demitindo e fica todo mundo desesperado", compara.

Participação 

Pelas contas do economista Vinícius Botelho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), o peso da construção civil no Produto Interno Bruto (PIB) é de 6,5%, considerando a nova metodologia. Quando se mensura toda a cadeia produtiva, essa participação encosta nos 10%. Levando em conta apenas a taxa de investimento, o setor responde por metade do total. "Desde 2010, a participação da construção civil na taxa da FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo) está praticamente estagnada em 50%", sublinha Botelho.

O economista-chefe do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Celso Petrucci, reforça a queda nos investimentos. "No ano passado, praticamente 60% do total investido foram em máquinas e equipamentos da construção. O merestá fraco, com queda nas vendas e uma expectativa ainda pior para este ano." Estoque 

São Paulo, principal mercado do país, reflete o que ocorre em todo o país. "Em 2014, tivemos uma redução de 7% no número de lançamentos e de 35% nas vendas. Fechamos o ano com um nível de estoque nunca antes visto, em torno de 10 mil unidades", conta Celso Petrucci, do Secovi-SP, prevendo que, em 2015, o número de novos empreendimentos recue 10%.

Panorama

Dura realidade: 2,6% de encolhimento do setor em 2014  

Mão de obra: 13 milhões de pessoas trabalham na cadeia produtiva da construção civil  

Material de construção: 8,8% foi o recuo nas vendas no primeiro trimestre deste ano  

Fonte: Correio Braziliense via CTE

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