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Banheiros sustentáveis

A necessidade de minimizar desperdícios na fase de obras e reduzir despesas durante a operação dos edifícios tem ajudado a disseminar a incorporação de materiais e equipamentos inteligentes nos projetos de edifícios residenciais e comerciais. A consolidação dessa nova cultura passa especialmente pelo desenvolvimento dos sanitários, onde há um grande consumo de água e energia elétrica.

Em meio a esse cenário, cada vez mais construtoras têm adotado kits hidráulicos, metais redutores de vazão, dispositivos de acionamento eletrônico, sistemas de reúso de água e até mesmo banheiros prontos para aumentar a eficiência tanto na obra quanto na ocupação dos empreendimentos.

No caso da água, um bom planejamento em projeto tem potencial de diminuir o consumo nos banheiros em até 30%. Se o projeto considerar a instalação de sistemas de reúso de água, esse potencial sobe para 70%, afirma Wágner Oliveiragerente de consultoria de uso e operação sustentável do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE).

"No segmento residencial, a redução é menor porque a influência do chuveiro nos banheiros é muito grande", observa. Segundo ele, a média de consumo dos chuveiros é de 14 litros a 18 litros por minuto, mas com o uso de restritores, a vazão desses equipamentos pode ser reduzida para 12 litros por minuto. "O grande avanço agora é aumentar a conscientização sobre o uso e a manutenção corretos desses equipamentos", ressalta Oliveira.

A padronização de projetos permite o uso de sistemas industrializados, como os kits hidráulicos e os banheiros prontos, reduzindo consideravelmente o desperdício de materiais em obra. "O ideal é que a interação entre arquitetos e projetistas de hidráulica aconteça o mais cedo possível. Assim conseguimos garantir a mesma distância entre os centros das torneiras e das descargas, e a repetição da posição das bacias, chuveiros e lavatórios nas paredes, em todo o edifício. A previsão de proximidade entre os ambientes úmidos, por exemplo, também permite o uso de uma quantidade menor de tubulação", explica Paula Landi, sócia gerente da Tesis Sistemas Prediais.

Além da qualidade do projeto e da execução, garantir a compra de sistemas e materiais eficientes e em conformidade com as normas técnicas é uma maneira eficaz de reduzir desperdícios tanto na obra quanto no pós-obra. "As torneiras conformes, por exemplo, seguem o padrão máximo de dispersão exigido na norma, portanto, já saem ''''sustentáveis'''' de fábrica. O mesmo acontece com tubos de PVC conformes, que são produzidos para suportar a pressão de água exercida nas suas paredes, evitando futuros vazamentos", conta Paula.

Reúso de água
A implantação de sistemas de reúso de água é uma alternativa para minimizar o consumo de água potável nas edificações. De acordo com Oliveira, do CTE, as fontes não potáveis de água podem ser reutilizadas tanto nas bacias e mictórios como também para a lavagem de áreas comuns.

"As chamadas águas cinzas podem ser provenientes de chuveiros e até mesmo dos drenos do sistema de ar condicionado, mas é importante salientar que cada fonte tem uma quantidade diferente de contaminantes e deve receber os tratamentos adequados antes de serem disponibilizadas para o reúso", explica.

De olho na crise hídrica que afeta o Estado de São Paulo, a construtora e incorporadora Trisul está implantando a solução nos canteiros e nos empreendimentos residenciais a serem lançados. O sistema (que possui prumadas, tubulações e reservatórios independentes do sistema de água potável) possibilitará que a água proveniente de chuveiros e lavatórios seja reutilizada nas descargas dos sanitários dos apartamentos-tipo e para a limpeza das áreas comuns após ser tratada.

O investimento nessa alternativa, segundo Roberto Pastor, diretor técnico da Trisul, corresponde a 1% até 1,5% do valor total da obra. Por outro lado, permite a captação de 50 metros cúbicos de água por dia em um edifício com 90 unidades, podendo gerar uma economia de 10% no consumo de água potável do condomínio.

A eficácia e a segurança da implantação de sistemas de reúso de água cinza, no entanto, não são unanimidades entre os especialistas da área. A preocupação se concentra nas edificações residenciais, onde a operação e a manutenção ficarão a cargo dos condôminos, cujo conhecimento técnico sobre o sistema é praticamente nulo (veja o debate da próxima página).

"O reúso de água é altamente recomendável, desde que siga todas as técnicas de engenharia exclusivas para ele. Ainda há problemas primários a serem resolvidos nessa área. Portanto, o uso em prédios residenciais pode representar riscos sérios aos moradores", observa Oliveira.

Segundo o consultor, a qualidade do tratamento, a manutenção e a operação dos sistemas deficientes, falta de identificação e distinção dos sistemas de tubulação (evitando o risco de fornecimento cruzado de água) e a ausência de normas e de projetistas especialistas para esse tipo de solução no Brasil são pontos críticos.

"Antes de investir em sistemas de reúso, é preciso investir no uso racional da água. Precisamos garantir o uso eficiente ainda no projeto, controlando a pressão dos pontos do consumo por método probabilístico, por exemplo", completa a engenheira Paula.

Eficiência energética
Equipamentos eletrônicos (como secadores de mãos, torneiras eletrônicas ou sistemas de tratamento de ar), quando incorretamente especificados, instalados ou operados também podem ser responsáveis por desperdícios significativos de energia elétrica nos banheiros. "No segmento comercial, os sistemas de tratamento de ar podem ficar ligados 24 h. Várias pequenas cargas, somadas, podem ter um impacto grande no desempenho energético do edifício", lembra Oliveira.

No segmento residencial, o chuveiro elétrico segue como o principal responsável pelo consumo de energia. No entanto, ainda não é consenso entre pesquisadores se a substituição desses aparelhos por sistemas de aquecimento a gás, por exemplo, é a alternativa mais eficiente a ser adotada.

"Os aquecedores a gás de passagem levam um tempo maior para aquecer a água. Portanto, são grandes gastadores de água fria, enquanto os chuveiros elétricos, gastam mais energia", observa Paula.

A engenheira lembra que já há, no mercado, soluções para promover o aquecimento da água ainda na tubulação, antes que o chuveiro seja ligado, mas que devem, idealmente, ser previstas em projeto. "O usuário final não quer quebrar sua parede. O preço do sistema é baixo e pode ser absorvido sem traumas pelo empreendimento", completa.

Por Gisele Cichinelli

Fonte: Construção Mercado, Debates Técnicos, Edição 173, dez/2015

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