Alternativa para o consumo d'água nas empresas

Com escassez d'água, empresas investem em reúso para terem segurança no abastecimento. Com redução de até 80% no consumo, elas ainda economizam

As chuvas que banham o Ceará em 2017, depois de cinco anos de seca, ainda não trouxeram alento para os setores que dependem de água para operar. Os açudes, com 12,5% da capacidade total de acordo com a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Estado (Cogerh), mal dão conta do abastecimento humano e das atividades econômicas. Para minimizar os efeitos da escassez, empresas que atuam no Ceará têm como lema “poupar para não faltar”. E reduzir custos também.

“Os empresários começam a compreender que existem mecanismos simples para que se consiga tanto o reúso quanto o próprio reaproveitamento”, destaca a Christie Bechara, consultora e gestora em sustentabilidade.

Ela explica que, nas indústrias, a água potável pode ser substituída pela de reúso, especialmente para o resfriamento de equipamentos, rega de plantas e até na linha de produção. “Com a instalação de filtros e outros equipamentos que promovam o reúso, de acordo com o porte da empresa, é possível reduzir o consumo em até 80%”, afirma.

O ganho é substancial, inclusive do ponto de vista da imagem da empresa. Mas é preciso ter cuidado constante. “Não basta apenas investir, é preciso fazer a manutenção. Buscar sempre melhores soluções, otimizar processos e viabilizar oportunidades, diagnosticar riscos e controlá-los”.

Na Fábrica Fortaleza, do Grupo M. Dias Branco, a água da chuva é captada através de um sistema de calhas no telhado e galerias no entorno da empresa. Ela é encaminhada para um lago artificial (sediado na própria unidade), com capacidade de 220 mil m³, onde fica armazenada até ser captada e destinada para a estação de tratamento. “Utilizamos a água na fabricação dos nossos produtos e no consumo interno dos colaboradores”, destaca Aricelma Ribeiro, gerente de Meio Ambiente do Grupo M. Dias Branco.

A fábrica também dispõe de uma estação de tratamento de efluentes. Após tratamento, a água passa a ser usada na irrigação dos jardins. “Deixamos de captar água de açudes para irrigação. Eles passaram a ser uma fonte alternativa para utilização em casos emergenciais. Diminuímos a quantidade de efluente tratado lançado em corpos hídricos, encaminhando para um destino mais nobre e sustentável”.

O projeto também despertou o interesse dos colaboradores. “Conseguimos sensibilizar quanto a importância da reutilização, desmistificando a ideia de que o efluente só agrega fatores negativos, sendo avaliado como uma fonte alternativa necessária e de grande valia ambiental e social”, afirma Aricelma.

Grande consumidora de água no processo de transformação do aço, a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) afirma fazer reúso de 98% do total consumido em sua produção. “O resultado disso é que a CSP consome 37,5% do volume outorgado pela Cogerh. São 3,15 m³ de água por tonelada de aço, enquanto a média da indústria total é um número superior a 6 m³ por tonelada”, disse a CSP em nota.

Aplicações da água de reúso

1 IRRIGAÇÃO PAISAGÍSTICA: parques, cemitérios, faixas de domínio de autoestradas, universidades, cinturões verdes, gramados residenciais

2 IRRIGAÇÃO DE CAMPOS PARA CULTIVOS: plantio de forrageiras, plantas fibrosas e de grãos, plantas alimentícias, viveiros de plantas ornamentais, proteção contra geadas

3 USOS INDUSTRIAIS: refrigeração, alimentação de caldeiras, água de processamento

4 RECARGA DE AQUÍFEROS: recarga de aquíferos potáveis, controle de intrusão marinha, controle de recalques de subsolo

5 USOS URBANOS NÃO-POTÁVEIS: combate ao fogo, descarga de vasos sanitários, sistemas de ar condicionado, lavagem de veículos, lavagem de ruas e pontos de ônibus, etc.

6 FINALIDADES AMBIENTAIS: aumento de vazão em cursos de água, aplicação em pântanos, indústrias de pesca

7 USOS DIVERSOS: aquicultura, construções, controle de poeira, dessedentação de animais

ÁTILA VARELA